Percebi que ao retirar as vísceras de alguns peixes, encontrava moedas. Moedas de todos os lugares do mundo, velhas e novas também. Algumas moedas de Real. Comecei a juntar as moedas ao meu lado e pela primeira vez percebi o entorno, era um lugar sujo com umas construções de cimento na beira do mar e de um riacho, no qual eu estava perto. Sentado ao meu lado tinha um sujeito, e de alguma maneira poderia dizer que ele era um amigo, embora não me inspirasse muita confiança.
Em determinado momento notei que algumas moedas haviam sumido, e como estavam presentes no lugar várias outras pessoas, falei bem alto, para que todos ouvissem: me roubaram algumas moedas, vou descobrir quem foi. E o clima que já não era muito bom, ficou ainda pior. De alguma forma todos se sentiram ofendidos. Do mesmo jeito que culpados tentam dissimular a culpa.
Prossegui limpando os peixes, a esta altura achava notas de pequeno valor, até que um homem sujo, vestindo farrapos, careca, num clima meio Mad Max - e ao olhar para mim mesmo e para o meu amigo, não estávamos muito diferentes - passou a nos incomodar. Berrava, atrapalhava nosso trabalho, algumas vezes ameaçava o monte de moedas que estava ao meu lado. Peguei o monte, pus do outro lado do riacho e levantei tentando evitar a presença desagradável. O homem careca me seguiu, e continuou a provocar. Até o momento em que resolveu mijar de cima de uma construção em mim, no meu amigo e em algumas coisas de outras pessoas. Senti muita raiva e fui furioso na direção do sujeito, o derrubei, dei dois chutes no ombro e parei. Neste momento surge meu amigo com outro trabalhador e eles continuam batendo no ser caído no chão. Este outro trabalhador pisa com força e sem piedade no pescoço do homem e se ouve um estalo. O homem sujo, com a coluna fraturada, estaria tetraplégico. Fiquei transtornado, não acreditava que houvesse necessidade de tanta violência.