eu corria com alguns amigos meus. todos eram negros. também eu era negro.
corremos por várias ruas, mas eu não tive certeza do porquê corrermos tanto.
por vezes, as ruas faziam uma curva descendente até ficarem totalmente verticais.
como não poderia deixar de ser, eu sempre caía quando acontecia isso, estatelando-me em alguma esquina para voltar a correr.
e no meio desta correria sem fim eu ligava para a telefonista, e prometia-lhe que íamos viajar em breve, que eu a levaria para conhecer a catedral de são paulo (que por coincidência era onde eu passava naquele exato momento). ela ria, do outro lado da linha, pedindo-me para esperar, quando tinha que realizar outras chamadas.
eu contei a ela que nunca mais tinha visto o mendigo sem pernas, que costumava mendigar em frente ao banco do brasil. hoje mesmo eu havia passado várias vezes por lá, sempre correndo, e no lugar dele havia uma obra. ali, pendurado, havia um cartaz "breve, aqui, o lugar do mendigo".