Drömma

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Drömma Dreaming Logger — Coleção de Sonhos — Sonhário
Gavetas / SL

Eu havia roubado o carro do meu pai, o predileto de dele e decidi viajar até o Panamá. Sabendo que se tratava de uma longa e cansativa viagem decidi passar no supermercado para comprar um saco de dormir e bastante comida. Coloquei tudo no porta-malas do carro e comecei a dirigir. Quando estava perto da divisa de SC vi uma casa no meio da estrada e tive que parar o carro, pois ela estava bloqueando a passagem. Era uma casa pequena de maneira, com a pintura descascada e sem janelas. Fiquei pensando como ia fazer parar continuar com a minha viagem. Tentei empurrar a casa com as minhas mãos e me dei conta que eu precisaria de alguém bem forte para me ajudar. Saí dali a pé e fui atrás de alguém. Eu estava no meio do nada quando começou a ficar noite. Voltei para onde havia deixado o meu carro e a casa havia sido empurrada para o lado. Fiquei pensando que alguém mais forte que eu que também precisava passar por aquele trecho da estrada havia feito isso. "Tudo bem", pensei, entrei no carro e continuei a dirigir. Em certo ponto da madrugada parei em um posto de gasolina para colocar gasolina e fazer um lanche no restaurante. Entrei no restaurante, as paredes eram em cor roxo-claro e a atendente usava uma roupa da mesma cor. As mesas eram para uma única pessoa, as cadeiras eram muito altas e eu não conseguia subir. Fiquei esperando alguém vir me atender. Naquele lugar havia mais umas três ou quatro pessoas jantando e tomando café. Todas em silêncio. A TV estava ligada e falava que Júlio Cortazar e Kafka iriam se reunir em Bagdá para fumar narguilé e lutar contra o fim do surrealismo tcheco. Eu tava tão cansada de dirigir que nem fiquei impressionada. Ninguém vinha me atender quando caminhei até a mulher com avental da mesma cor das paredes e falei que gostaria de beber um expresso duplo. Ela me disse para procurar o que eu quero nas gavetas que estão atrás da porta de entrada. Com toda naturalidade do mundo eu fui lá, atrás da porta havia uma parede cheia de gavetas de todos os tipos, tamanhos e cores. Abri uma que ficava quase grudada no chão e dentro dela havia muitas lagartixas e aranhas de plástico. Levei um susto e fiquei pensando que a mulher do avental queria me pregar uma peça. Mas continuei a abrir as gavetas porque achei que o meu café expresso duplo poderia estar ali. Em uma outra gaveta havia um livro chamado "Teorias Dobem". Peguei, dei uma olhada e dentro do livro havia um recado para nunca desistir de olhar as gavetas. Eu continuei buscando pelo meu café quando a mulher de avental me trouxe uma escada de plástico e eu subi para que alcançasse bem lá no alto. A parede parecia não ter fim. Fui abrindo várias, muitas estavam vazias muitas tinham outras gavetas dentro que por sua vez tinham outras gavetas dentro... Eu fiquei cansada e já havia perdido muito tempo naquilo lá, eu pensava que só queria tomar um café, e um homem com chapéu de palha e sem dentes disse que ali eles não serviam cafés porque não cabiam dentro das gavetas. Fiquei muito braba por não terem me avisado antes, abri uma das gavetas e cuspi dentro com raiva. Quando eu estava entrando no meu carro em direção ao Panamá, a mulher de avental roxo correu até mim e me entregou um aparelho telefônico branco muito pequeno que tinha muitos fios pretos, disse que através dele eu poderia me comunicar com o mundo quando quisesse e até mesmo acessar o conteúdo babilônico das gavetas, pois eu poderia precisar em um futuro breve. Fui embora. De longe avistei o homem sem dentes cair no chão.