Drömma

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Drömma Dreaming Logger — Coleção de Sonhos — Sonhário
Vermelho e branco / cau

Hoje, dormindo aqui no sofá no apê do meu amigo em Istanbul, sonhei que tava numa festa da galera da arquitetura. Não sei se era só gente do meu curso, mas eu conhecia um bocado deles e apesar d'eu não lembrar a cara deles, a consciência do meu sonho me dizia que eram conhecidos sim. Era noite, estávamos em uma casinha antiga bem simples com luzes amarelas penduradas e varanda com uma cobertura de folha seca de palmeira. A rua era de pedra e tinha só casas ao longo dela. Não lembro se estava tudo bem no começo, mas que em certo momento fui fazer algo nos fundos da casa - provavelmente buscar cerveja - e enquanto atravessava os cômodos, três caras me pararam. 'Ei, o que você tá indo fazer?' 'Nada', respondi. Então eles mencionaram um outro cara, que eu não gostava, e disseram que ele tinha autorizado eles brigarem. 'Pra que brigar aqui na festa? Cês não tem motivo nenhum. Fora que esse sujeito não tem que autorizar nada não.' 'A gente não liga' um deles disse, e tentou me atacar. Eu escapei deles, sem entender o que tava acontecendo. Fui buscar minha cerveja ou sei lá o que, quando ouvi uns gritos. A galera começou a ficar agitada e correr. Voltei pro interior da casa e vi que tava rolando uma briga generalizada. Copos, garrafas, mãos e pés atingindo os corpos bêbados. Aparentemente, dois grupos que nem eram rivais de nada, só gente que não se falava muito, começaram a se atacar porque um deles queria. Vieram pra cima de mim. Quebrei a garrafa de vidro que segurava e tentei me defender. Tinham uns caras com facas e pedaços de vidro quebrado. Tentei atravessar, ir pra outro cômodo e tentar entender tudo aquilo. Chutei, corri, tomei vários cortes nos braços. Fui até um quarto da casa onde tava esse cara que falou que eles 'podiam' brigar. Quando cheguei, ele e mais uns quatro que tavam no quarto pararam e olharam pra mim. Antes de eu perguntar qualquer coisa, ele disse: 'peguem esse cara ai'. Só consegui soltar 'má que porra é essa' e saí correndo. Ia empurrando gente pra passar e vendo conhecidos tomando porrada e caindo no chão, cheios de sangue na roupa, como eu também estava. Fui até a varanda na frente da casa, onde as coisas pareciam até normais, pulei pra rua. Lembrei que minha bolsinha de encontro de estudantes tava lá dentro ainda, com minha câmera, caderno e carteira. Hesitei em voltar praquela loucura, pensei em seguir sem documentos, sem câmera, mas com vida. Olhei pro lado e um amigo cabeludo tava dando em cima de uma ragazza que passava pela rua, como se não houvessem preocupações na cabeça naquele momento. Fiquei olhando, vi também uma garrafa de vodca num canto. Catei ela, quebrei ao meio, empunhei como se fosse minha espada e voltei lá pra dentro. Por sorte, vi minha bolsa no primeiro quarto que entrei, numa mesa perto da porta. Corri, empurrando mais gente que se matava. Pulei de novo a varanda, vi o cara transando com a menina num canto escuro. Os dois em pé virados pra parede não pareciam estar no mesmo mundo de sangue que eu tava. Segui andando pela rua, pensando em nunca mais voltar pra essa cidade. Iria mandar emails pedindo transferência pra outro lugar, na primeira oportunidade que tivesse. No caminho, passei por uns brinquedos de rua, umas estruturas pra se pendurar pelos braços, uns pneus e esse tipo de coisa que tem em parques e praças pra se exercitar. Resolvi me adentrar e macacar um pouco, pendurando-me nas cordas. Pra minha surpresa, um amigo que achava ter perdido na confusão estava ali, sentado nuns pneus. Perguntei se ele tava bem, ele disse 'ah, aquilo tava muito doido, não curti não, vim pra cá quando deu', com aquele típico desinteresse de Lucas, como se a gente estivesse só numa festinha da sala. 'Ow, eu vou continuar indo pra mais longe possível disso ai, se você quiser vir também pode vir', eu completei. Ele acenou que sim com a cabeça, mostrando uma expressão de 'não tou fazendo nada mesmo'.
Continuei andando sozinho pela rua, ele vindo mais atrás. Avistei a uns cem metros a casa do meu bisavô. Já era dia agora. Fui andando em direção à casa, vi o pé de goiaba branca carregado com aquelas frutas gordas e suculentas. Como de costume, o velho magrinho tava lá na varanda, esperando alguém pra trocar uma conversa casual. Subi os três degraus de escada, fui falar com ele. Dei bom dia e pedi 'bença', beijando a mão que parecia a versão velha da minha. Ele sorriu, me deu bom dia também. Conversei um pouco com ele, até meu amigo chegar. Quando chegou, vi que não era o mesmo de antes, mas o Nilton, o amigo moçambicano. Naquele mundo, eles eram o mesmo cara, pra mim pareceu normal na hora. 'Aí, esse aqui é meu vô, ele tem 102 anos'. 'Uau'. Velho Maia riu e disse: 'é, ano que vem eu vou ter 103'. Dei uns tapas de leve nas costas do véio. Fiquei feliz em conversar com ele e vê-lo lúcido, ali no meio das goiabas brancas que flutuavam e da luz do nascer do sol.
Me despedi, catei umas goiabas, fui andando pela rua. Olhei pra minha mão cortada e sangrando, segurando a goiaba branca meio comida. Acordei.