Drömma

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Drömma Dreaming Logger — Coleção de Sonhos — Sonhário
A gravidez / Renato Torres

Viviane estava grávida... e de mim! Era uma sensação inédita, um pouco alegre, e um pouco assustadora. Dado momento, observávamos uma festa do pessoal do teatro, todos com indumentárias, e alguns interpretavam mesmo alguns personagens. Víamos uma mulher em uma performance de louca, meio chorosa, e Vivi começou a tecer críticas, dizendo com sua agudez avaliativa, quais eram as lacunas daquela performance. E então começou a atuar, como achava que deveria ser, descendo até onde estavam os atores - estávamos num patamar mais alto. Fui com ela. Súbito, encontramos nosso amigo Wagner, que nos cumprimentou com a alegria costumeira. Prontamente, Vivi tomou sua mão e colocou-a sobre sua barriga, para contar-lhe a novidade. Ele olhou pra mim, e acenei que sim, o filho é meu. Ele sorriu, mas imediatamente pronunciou algumas palavras, como uma prece. Algo como "que os carmas dessa relação se dissolvam, se consumam rapidamente". Vivi ficou assustada, eu fiquei um pouco apreensivo, mas depois entendemos que ele nos desejou o melhor.

Noutro momento estávamos eu e Viviane num outro lugar, com várias pessoas. Eu a deitava, a cortejava, e ia comer algo, perguntando se ela queria também. Ela dizia que não, que depois iria, e eu a deixava. Em dado momento eu via um cara em cima dela, falando com ela, meio cercando, tentando seduzir. Era um tipo meio bolha. Eu observava e pensava no que o Wagner tinha dito, e ficava quieto.

Depois estávamos numa casa. Não era tipo "a nossa casa", mas uma casa onde precisávamos ficar. Talvez mais ela do que eu. Ela, deitada numa cama, reclamava de tudo. Era uma casa pobre, o teto era de palha, e ficava caindo sujeira; ela reclamava muito disso. Eu procurava acalmar-lhe, afinal de contas, ela estava grávida; tentava satisfazer-lhe as vontades. Havia um homem humilde, provavelmente o dono da casa, no quarto conosco. Ela dizia que não agüentava mais aquilo caindo no corpo dela, que incomodava, e numa hora pedia mais uma dose de uma cachaça que estava sobre uma cômoda. A casa lembrava ambientes da minha infância, com suas antiguidades, singelezas, e a pobreza.

Parecia começar a chover - alguém subia no telhado para consertá-lo, caíam mais torpezas do teto. Determinada hora ela olha através de uma janela de vidro, e vê uma menina descabelada, linda e natural, correndo na chuva, com seu vestidinho, a sorrir, pra debaixo de uma árvore onde estava alguém, talvez sua mãe. Foi um momento de ternura nos olhos de Vivi, não recordo se ela disse algo, mas o alívio da visão foi, sem dúvida, mais eloqüente que tudo. Havia uma sensação no sonho, que se estendeu até a vigília, de que Viviane estava grávida de uma menina.