Drömma

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Drömma Dreaming Logger — Coleção de Sonhos — Sonhário
Noite de vento, noite dos mortos / Lola

Ventava muito. J andava me assediando e tentava se passar por outra pessoa. Eu gostava de quem ele parecia ser, mas algo me dizia que era J quem andava a minha volta. Me sentia um pouco mal por causa de meu namorado, mas sentia uma atração muito forte por aquele desconhecido. Um dia ele me levou até sua casa e na calçada encostava seu corpo ao meu. Fiquei muito excitada mas me afastei, ele correu atrás de mim e me enlaçou com força, tentei me desvencilhar e minha camisa abriu-se deixando o sutiã a mostra. Uma vizinha ia chegando em casa e nos olhou com reprovação. Do outro lado da rua, que era uma ladeira, o freio de um carro soltou-se e ele foi engavetando com os outros carros que estavam estacionados no meio fio. Uma mulher carregava o porta malas com um casal de filhos adolescentes, foram para a calçada em tempo de escaparem ilesos e o carro de trás bateu na traseira deles. A menina fez uma cara de imenso desgosto porque perderiam o avião e a mulher disse, entre aliviada do susto e resignada com o prejuízo, “Ah, nem adianta fazer essa cara, no próximo ano vamos a Sydney então, vais ter que te contentar com a Bahia”. J, que era partidário de um socialismo burro e vingativo, disse satisfeito: “Bem feito, é bom ver a burguesia se fuder de vez em quando.” Entrei em sua casa e ele tinha então dois filhos de uns 8 ou 9 anos, os meninos jogavam vídeo game. Como eu já os conhecia, fiz cócegas em um para distrai-lo do jogo, numa brincadeira, e ele meio divertido meio incomodado disse “ isso não vale”. Segurei a mãozinha do outro num carinho demorado e ele ficou contente e sem jeito. Eram crianças doces e tímidas e pareciam me conhecer e gostar de mim. De repente me dei conta de que amava meu namorado e não deveria estar ali, quis ir embora e J tentava me impedir, eu disse para ele me esquecer e nunca mais me procurar, me senti péssima por causa de meu namorado. Subi em minha bicicleta e minha gata me seguia pela rua. J também me seguia e suplicava, e dizia que queria saber o que havia feito para que eu sentisse repulsa por ele. Respondi “ Sinceramente as asneiras que você disse e fez quando nos separamos foram totalmente desnecessárias. Não me procure mais.” A bicicleta estava com um pneu murcho e o guidão muito baixo, se deslocava muito devagar. J continuava me seguindo quando gritou algo que não entendi e entrou em uma igreja luterana. Eu estava aflita para chegar logo em casa e abraçar meu namorado, me sentia culpada. Atravessei a avenida mas minha gata ficou do outro lado porque havia muitos cachorros e eles tentavam a amedronta-la. Chamei-a e ela atravessou a rua. Perto de mim havia muitas crianças, todos meninos, e cães que tentaram agredir a gata. Um menino tentou pega-la no colo para protege-la e eu o alertei: “Não tente pega-la, ela é mansa mas está com medo, desse jeito ela fica mais perigosa do que um cachorro porque ela é muito rápida.” O menino a largou e lembrando com desagrado de J, torci para que ele não me procurasse mais e pensei, “ Como dizia Ana Terra, noite de vento, noite dos mortos.” Ventava muito, mas era dia.