Me arrumava para ir para a aula na minha escola de segundo grau, eu era novamente aluna secundarista. Minhas roupas estavam todas dispostas em cabides no pátio do meu edifício, era cedo da manhã, ainda escuro, e eu tinha dificuldades para decidir o que usar. Então apareceram meu pai e a mulher dele e o pai ficava me fazendo perguntas pessoais que me pareciam despropositadas e aquilo começou a me deixar nervosa ao mesmo tempo em que eu não encontrava ou encontrava e perdia novamente as roupas e o material escolar que estava arrumando. Acabei discutindo com meu pai e ele fez um comentário sobre suspender a minha pensão, eu o olhei com muita raiva e ele disse que não gostou nada daquele olhar de "ameaça". Acabei decidindo por uma blusa branca de lã com detalhes em dourado e dois lenços para o pescoço, também branco com dourado, e acho que usava também calças jeans. O tempo avançava e eu me irritava cada vez mais com o papo do meu pai e o fato de ter novamente espalhado todo meu material pelo jardim do prédio, então só consegui colocar dentro de uma bolsa um maço de cigarros e algumas tralhas, mas nenhum caderno ou livro. Peguei o ônibus e no caminho passei pela minha antiga escola de natação, lembrei que naquele dia ainda tinha que ir nadar e precisava estudar para o final de semestre no mestrado. Lembrei que há muito havia terminado o ensino médio mas que não entendia como estava seguindo carreira acadêmica se nunca havia frequentado as aulas de português, e fiquei ainda mais angustiada porque chegaria novamente atrasada na aula de português e alguém poderia perceber e me mandar de volta para o segundo grau. Chegando em frente a escola havia muito movimento e um homem me abordou pedindo dinheiro. Argumentei que não tinha realmente nada para dar a ele mas ele insistiu e me segurou pelo braço. Dei um puxão no meu braço e ele arrancou um envelope das minhas mãos. Tirou um papel do envelope mas era apenas a fatura de uma conta a ser paga. O homem se tornou ameaçador e eu o derrubei no chão com uma gravata, como ele ainda me ameaçava eu chutei seu nariz, que sangrou, e ele ficou furioso mas eu corri até o portão da escola. O homem ficou do outro lado da rua esperando eu sair. Chegando no colégio havia pessoas fantasiadas e uma conhecida me disse que naquele dia não haveria aula, apenas um ato show, perguntou se eu participaria e eu disse que não pois precisava ir nadar e estudar, e isso estava me angustiando cada vez mais. Encontrei o zelador da escola e ele me perguntou quem eu era, eu queria pedir ajuda pois o homem ainda me esperava do outro lado da rua e disse que eu era estudante do segundo ano. O zelador riu e perguntou desde quando, pois ele conhecia todos os alunos, e eu pensei, este zelador é novo e me formei há quase quinze anos, ele não vai acreditar em mim. A angústia e o medo de não ser aprovada em português e do homem de nariz sangrando que me aguardava aumentavam. Acordei. Mas a angústia e o medo acordaram comigo.