Usava uma capa, tipo um manto, feita de malha de metal de cromado dourado apagado. Entre a trama da malha de metal havia uma segunda trama de fitas, linhas e cordões de tecido, se entrelaçando entre o metal, parecia um crochê.
A parte feita do crochê na capa tinha duas cores, metade dela era vermelha e a outra metade era preta. As duas cores não se misturavam a parte da capa esquerda era completamente vermelha enquanto a da direita toda preta.
Usava aquilo como se fosse parte de mim. Como se tivesse nascido com ela e continuaria usando-a ao morrer.
Lembro que chegou uma hora em que eu deveria escolher qual cor tomaria a capa por completo. As pessoas que passavam por mim gritavam, bravas, desaprovando a capa ter duas cores e me exigindo que eu escolhesse ficar com apenas uma das cores, algumas exigiam que a capa fosse inteira vermelha, outras exigiam a cor preta. Não me lembro onde eu estava, mas havia uma máquina que, quando eu decidisse uma das cores, ela transformaria a capa na cor escolhida.
Cada vez mais as pessoas ficavam irritadas comigo e não me escutavam, já que eu achava aquilo tudo desnecessário e tentava explicar que eu não via motivos para mudar para uma das cores, me sentia bem do jeito que estava. Não havia saída, eu tinha de escolher, e aquilo tudo me entristecia.