Drömma

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Drömma Dreaming Logger — Coleção de Sonhos — Sonhário
2012-12-28 pós-espetáculo / iwao

um evento num teatro antigo, grande, aparentemente tradicional - as poltronas vermelhas, dobráveis mas duras, veludo e pilastras de mármore - mas cujo proscênio se estende como um galpão de fábrica abandonada. algo estranho, ruídos, passagens, talvez uma peça monumental de mauricio kagel ou peter ablinger. de cima, vê-se que não há palco senão um espaço visível, mas que continua no não visível. cenas disformes, pequenos acontecimentos, olhando para baixo, agora de pé, caminhando, há uma escada e corrimões. paro. por fim, um apagão e grande silêncio. o tempo passa. não há mais músicos ou atores. a luz de serviço é ligada, tênue, e a música recomeça, desta vez algo trivial, de espírito barroco, um som de clavicórdio - só reconheço depois de um tempo. o sujeito toca de pé. penso: "seria isso um final verdadeiramente radical, após o blackout, uma música, um ambiente enorme preenchido por uma tênue música, trivial mas bela, evocando uma nobreza perdida, e uma experiência do banal após o aturdimento do estranho?". a escada é de madeira e umas pessoas sobem conversando, um produtor preocupado (um alterego) e outro, e o rapaz do clavicórdio toca de pé, um sujeito moreno com pinta de descolado e moderninho, no fundo um músico indolente. estou em baixo e ouço: "será que deveríamos avisar a todos que acabou?". aquele rapaz era da platéia. estava a tocar porque, sem ter algo melhor a fazer, achara um clavicórdio. a música é incoveniente, decerto, a continuar, e aquela banalidade não vai aglutinar um sentido maior. o camarim é branco, com azulejos brilhantes. deveria ser expressamente proibido de tocar qualquer instrumento no após espetáculos.